23/02/2010

Siza Vieira entre 200 criadores de projectos para "vazio" do Guggenheim de Nova Iorque

"Contemplating the Void" ("Contemplando o Vazio") é o título da mostra que está patente no Guggenheim até 28 de abril, segundo o sítio online da Ordem dos Arquitectos.
Mais de 200 criadores, desde arquitectos, designers e artistas foram convidados a criar uma intervenção na emblemática rotunda que o arquitecto Frank Loyd Wright traçou no interior do museu há mais de cinquenta anos.
Nesta exposição de "projectos ideais" emergem temas como o regresso à natureza, o desejo de escalar o edifício, a interligação entre luz e espaço, o impacto do som no ambiente, e o interesse por efeitos diáfanos em contraponto à estrutura concreta do edifício.
Além de Álvaro Siza Vieira, a lista de convidados inclui os arquitetos Philippe Rahm, Snøhetta, Studio Daniel Libeskind, Toyo Ito & Associates, Architects, West 8, BIG (Bjarke Ingels Group), Greg Lynn FORM, junya.ishigami+associates.
Também participaram os designers e artistas Fernando e Humberto Campana, Martí Guixé, Joris Laarman Studio e Studio Job, e Alice Aycock, Fake Design, Anish Kapoor, Sarah Morris, Wangechi Mutu, Mike Nelson, Paul Pfeiffer, Doris Salcedo, Lawrence Weiner e Rachel Whiteread.
A mostra é organizada pelos curadores Nancy Spector e David van der Leer, e é uma das iniciativas do Guggenheim para celebrar 50 anos de vida.

Fonte: Público

17/02/2010

Arquitectura bioclimática dá passos ainda tímidos na Região

Projectar e construir um edifício considerando a envolvente climática é o objectivo da arquitectura bioclimática, um conceito que, afinal, não é nada de novo, uma vez que nasceu com as primeiras habitações construídas pelos homens. Todavia, os princípios da arquitectura bioclimática têm sido esquecidos e ignorados na construção das habitações modernas, onde a utilização do betão e das “soluções fáceis” continua a dominar, com consequências nefastas no consumo energético e na vida dos edifícios. Na Madeira, o conceito de arquitectura bioclimática dá ainda passos tímidos.
Da utilização do conceito de arquitectura bioclimática advêem ganhos bastante significativos. Tanto no Inverno, como no Verão, quase não precisa de aquecer ou arrefecer as divisões de casa. Tal repercute-se na conta da electricidade e de gás, mais baixa do que em construções onde o conforto térmico não está assegurado.

Tal como realçou ao JM o Eng.º Filipe Oliveira, da Agência Regional de Energia e Ambiente da Região Autónoma da Madeira (AREAM) tem um clima bastante favorável à adopção dos princípios da arquitectura bioclimática.

Deste modo, salienta haverem “princípios simples que pode serem aplicados na construção das habitações, como seja fazer os sombreamento, a orientação, a ventilação natural e o aproveitamento da luz natural”.

Todavia, realça que embora “estes princípios sejam do senso comum há quem aplique mal e ourtos procuram aplicar melhor”.

A falta de conforto térmico nas casas resulta de problemas construtivos. Para ultrapassar o desconforto, gasta-se electricidade em excesso para aquecer ou arrefecer. Porém, as casas construídas segundo critérios bioclimáticos apresentam temperaturas que, na maior parte do ano, dispensam equipamentos de aquecimento ou arrefecimento.

Assim, como acentua Filipe Oliveira, na arquitectura bioclimática, a exemplo do que foi feito na Casa Solar do Porto Santo, “podem-se utilizar entradas de ar subterrâneas em que o ar entra por debaixo da terra e arrefece e quando entra dentro de casa já fresco, o que é uma grande vantagem no Verão”.

Por outro lado destaca a utilização de “janelas fingidas” ou “parede de Trombe”, em “que do lado de fora tem um vidro e por detrás da janela tem uma parede, em betão ou pedra, em que o sol passa através do vidro e aquece a parede que, depois, durante a noite vai libertando calor”.

Deste modo, sublinha “existirem muitas soluções “para aquecer” ou “arrefacer” uma casa, destacando que na arquitectura solar passiva ou na arquitectura bioclimática “o motor ou a fonte de energia é o sol e o vento”.

“É o vento na parte da ventilação, para fazer entrar e sair o ar, e o sol, que faz aquecer e circular o ar”.

Neste âmbito destaca a importância de uma casa estar bem orientada, de modo a receber o máximo de luz solar, o que, conjugado com entradas de ar na habitação, nomeadamente pode debaixo da terra, “quanto mais sol tiver mais circulação de ar faz”.

Os materiais de construção também influenciam as condições climatéricas no interior. A inércia térmica, própria dos materiais pesados, como dos tijolos maciços e da pedra, é importante em casas bioclimáticas. Com grande inércia térmica, mantêm-se mais tempo frescas durante o dia, enquanto armazenam calor, que libertam à noite.

Por isso Filipe Oliveira destaca a importância da “inércia térmica” na habitação. “Se tiver isolamento térmico por fora, a massa que está por dentro vai armazenar o calor no interior, o que quer dizer que se houverem uns dias muito frios as paredes como estão quentes vão manter o calor e uniformizar a temperatura dentro de casa, o mesmo acontecendo nos dias de Leste”.

Questionado sobre a razão por que os conceitos da arquitectura bioclimática não são mais vezes utilizados na construção das habitações, salienta que tal deve-se ao facto de que “obriga o arquitecto a pensar”, referindo que são sobretudo os arquitectos mais novos a valorizar estes princípios. Assim, salienta que muitos arquitectos “têm pouca sensibilidade” para a aplicação dos conceitos da arquitectura bioclimática. “Preocupam-se com o interior, com a distribuição de espaços, com a ocupação do lote - embora muitas vezes o terreno seja um factor limitativo - e porque sempre fizeram assim têm mais tendência a fazer de forma idêntica. Quando o projecto é ditado pelos promotores imobiliários a construção segue o princípio do mais barato, embora algumas destas soluções da arquitectura bioclimática não sejam as mais caras”, sublinha.

Embora reconheça que hoje em dia a legislação obrigue à utilização de técnicas que conduzem a uma melhor eficiência energética dos edifícios, Filipe Oliveira realça que um edifício que utilize as soluções da arquitectura bioclimática “tem um bom desempenho energético, embora o que é exigido não leva a que haja uma generalização do bioclimático”.

Considerando um cenário de consumo de 12.500 kWh/ano, correspondente a um gasto de electricidade de cerca de € 65 mensais e de € 35 de gás, a redução em 80% da fatia do aquecimento significa uma poupança anual superior a 250 euros.
Como conseguir um maior conforto térmico

Uma construção atenta aos pormenores
Técnicas de construção. Para perceber como aplicar algumas técnicas na sua casa, de modo a conseguir um maior conforto térmico, pode recorrer às agências de energia, municipais ou regionais. A ADENE (www.adene.pt) ou AREAM (www.aream.pt) tem informação sobre o Sistema de Certificação dos Edifícios e os novos regulamentos.
A orientação das fachadas da casa a Sul é favorável, no Inverno ou Verão, desde que com sistemas de sombreamento a proteger do sol directo. Numa sala de 30 m², por exemplo, as necessidades de arrefecimento podem aumentar em 1 kW, se a sala for orientada a Oeste, em vez de a Sul.

O isolamento térmico das paredes simples previne fugas de calor entre o interior e o exterior da habitação. O mesmo deve ser colocado no exterior, revestindo paredes e vigas e evitando as pontes térmicas. Uma parede simples isolada pelo exterior evita até 50% das perdas de calor.

Os vidros duplos protegem do calor e do frio. Têm duas camadas de vidro, separadas por uma câmara de gás inerte, de maior efeito isolante. As perdas de calor para o exterior reduzem-se em 45% com uma janela de vidro duplo e caixilharia isolante.

A chamada Parede de Trombe é constituída por um vidro exterior orientado a Sul, uma caixa-de-ar e uma parede de grande inércia térmica (de tijolo maciço, por exemplo). Estas paredes acumulam o calor do Sol durante o dia, transmitindo-o para o interior durante a noite.

A técnica de arrefecimento pelo solo permite refrigerar as divisões, fazendo passar ar do exterior por tubos enterrados, onde arrefece, sendo depois libertado na casa. No Inverno, o mesmo sistema permite pré-aquecer o ar.

A água pode ser usada para arrefecer o ar. Caso haja espaço disponível em frente à habitação, é possível criar espelhos de água. A evaporação da água dá-se junto às paredes exteriores da casa, diminuindo a temperatura do ar em seu redor.

As palas, ou varandas, por cima das janelas ajudam, durante o Verão, a quebrar a incidência directa do Sol.

As janelas basculantes permitem, com o estore parcialmente fechado, arejar a casa. Por sua vez, as janelas pequenas evitam o arrefecimento excessivo das casas viradas a Norte.

A forma do edifício influencia as perdas e os ganhos de calor entre o interior e o exterior. Quanto mais compacto for o edifício, menor serão as perdas energéticas. Além disso, uma casa baixa está menos exposta ao vento.

O uso de vegetação, de preferência a Este e a Oeste, evita a entrada de radiação solar directa através das janelas e protege as paredes exteriores do excesso de calor. A vegetação também protege do vento e oxigena o ar.

A utilização de painéis solares fotovoltaicos permite converter a energia solar em eléctrica, enquanto os colectores solares têm a vantagem de usá-la para aquecer água. A instalação destes sistemas leva à redução do consumo de energia eléctrica.
Legislação não ajuda à aplicação dos princípios da arquitectura bioclimática

«As pessoas estão pouco esclarecidas»
Ara Rodrigo de Castro é um jovem arquitecto que procura aplicar na construção de casas e edifícios os princípios da arquitectura bioclimática, reconhecendo no entanto que os obstáculos são vários.

Salienta que esta arquitectura “sempre se fez, desde o que o homem surgiu no planeta, pois desde o Pólo Norte ao Pólo Sul todas as habitações eram feitas consoante o clima e o local, utilizando os materias disponíveis nesse local, o que fazia com que as casas se tornassem quentes do Inverno e frescas no Verão”.

Todavia, realça que “com a Revolução Industrial e com o paradigma da Escola Bauhaus, com a construção em betão, tudo foi destruído, passando-se a construir rapidamente”.

Deste modo, Rodrigo de Castro destaca que “as casas de pedra antiga madeirenses” eram feitas com os princípios da arquitectura bioclimáticas, ou seja, “viradas a sul, com as paredes com uma determinada espessura e com as aberturas correctas, o que fazia com que o sol aquecesse a casa durante o dia e o calor fosse libertado no interior da casa durante a noite, aquecendo a casa”.

Portando, acentua que o objectivo da arquitectura bioclimática “é projectar consoante a natureza do próprio local e do clima e com os materiais do local”.

Deste modo, este jovem arquitecto considera que “pouco se fez em Portugal no âmbito da arquitectura bioclimática”, realçando que a maioria das “pessoas estão pouco esclarecidas e elucidades”, destacando que “muitas vezes o papel do arquitecto é desvalorizado em favor do técnico”.

Assim, culpa o decreto-lei 73/73 por esta situação que permite que os engenheiros técnicos possam assinar projectos de arquitectura “deixando o papel do arquitecto um pouco à margem da sociedade”, isto a par da falta de exigência de “projectos de execução” na maior parte das construções.

Rodrigo de Castro, salienta, assim, que estes factores contribuem para “que não haja um controlo da qualidade e execução dos edifícios”, o que, acentua, “contribui para por de parte os princípios da arquitectura bioclimática”.

Para além de defender uma alteração da legislação, considera que será sobretudo pelo factor de “imitação” que a arquitectura bioclimática irá se impor, uma vez que se as pessoas souberem que o vizinho tem uma casa que gasta metade da energia que consomem “vão querer também ter uma habitação igual”.