27/04/2005

Sobre(voando) o Territorio - Valor e Consentimento

"Maria Albertina deixa que eu te diga Esse teu nome eu sei que não é um espanto Mas é cá da terra e tem, tem muito encanto. Maria Albertina como foste nessa De chamar Vanessa à tua menina?". António Variações.
Não sei se sempre foi uma maneira de estar dos portugueses, se é só de agora, se vai ser sempre. Muito provavelmente acontece noutros sítios, acredito que sim. Mas tenho a certeza que este não é um sinal dos nossos tempos. Num país que há séculos ficou fora do mapa, somos um povo que abraça com facilidade aquilo que vem de fora. Se por um lado isso se pode constituir uma virtude, por outro é um defeito pela forma tão-somente epidérmica com que o faz. Acontece por isso, que as qualidades que temos, com raízes, tradição e carácter, são adulteradas, desaparecem ou se esquecem no deslumbramento perante outras realidades que não são a nossa. A Madeira, que durante séculos foi humanizada, moldando e domesticando uma natureza exuberante, de forma particular e com grande sabedoria, com carácter, acaba o século XX descapitalizada da sua riqueza principal. A paisagem, rural ou urbana, sofreu um desgaste provocado por uma miragem de progresso e utilização de modelos importados que, apesar de ter trazido mais qualidade de vida a uma população esquecida e desfasada em relação ao desenvolvimento europeu, tem penhorado o seu futuro a longo prazo. Não sei se era possível fazer as coisas de outra maneira, se haviam outros caminhos, provavelmente haveriam. Mas o Passado não interessa discutir. O Futuro é essencial.
Como pôr então no mapa um lugar? Ou, antes disso, como construir um Lugar? Um lugar que dê qualidade de vida aos seus habitantes, um lugar aprazível e apetecível de visitar, um lugar com alma na tranquilidade de ser ele próprio, mas sem ter que se perguntar ao espelho se há outro lugar mais bonito que ele?
É essencial que, antes de actuar, se definam objectivos e princípios. À partida poderíamos identificar três conceitos para a construção de um Lugar: Valor, Significado, Consentimento.
Valor. O Valor é a importância colectiva que a coisa tem. É dado pela ideia do servir ao bem comum; do equilíbrio social, económico, ambiental. É essencial que no traçado de um caminho para o futuro de uma cidade se pondere que as acções e transformações devem ter em vista o bem comum. Significado. O Significado constrói a relação entre as pessoas, realiza a sociedade dando-lhe identidade. À volta de símbolos, ideias e objectivos dá sentido a um grupo de cidadãos, a uma cidade, a um Lugar. Consentimento. Antes de actuar é preciso consentimento. Saber se um lugar consente que o transformem, saber como a cidade consente que se intervenha no seu património arquitectónico, saber se consente um crescimento infinito ou não, se consente que lhe seja falseada a sua personalidade. É preciso saber, antes de actuar, o que o território consente. Para isso, é preciso identificar o seu carácter.
Em suma, a Cidade, um Lugar, deve transformar-se segundo regras e princípios que tenham por base ideias fortes. Podem até ser gerais e abstractas, sem tentações burocráticas e formais, mas que, simplesmente, sejam estruturantes de um carácter e constituam objectivos a atingir. Num nível seguinte há que trabalhar com os agentes que operam sobre a paisagem e delinear estratégias. Aos que governam e orientam o desenvolvimento da cidade, pede-se-lhes que saibam ler o Futuro e os sinais dos tempos. Só assim poderão definir um rumo, com Valor, Significado e Consentimento.

Luís Vilhena - Presidente da Delegação Regional da Ordem dos Arquitectos na Madeira

Espero que alguém comente!....será interessante debater!

Um comentário:

Roberto Rodrigues disse...

Gostaria de saber o que acham os entendidos na máteria sobre isto?...