24/11/2005

Arquitectura e Urbanismo nas Ilhas Atlânticas. Um Patrimonio Comum dos Açores, Cabo Verde, Canarias e Madeira (2ª Parte)

Continuação do texto de José Manuel Fernandes:

"B - A ocupaçäo humana
"Desde os primeiros tempos, o destino das Ilhas Atlântidas parece ser o de enfeixar relaçöes distantes."Orlando Ribeiro,"As Ilhas Atlântidas"

1 - Uma história comum, uma tradiçäo mítica

Há uma "História Mítica" das ilhas Altântidas; o conhecimento da sua existência desde a Antiguidade desenvolveu lendas inúmeras sobre a sua origem e significado. "No faltan quienes, incluso com ínfulas científicas, admiten que [Canarias], junto con las Azores, la isla de Madera y el archipiélago de Cabo Verde, son lo que queda del mítico continente de la Atlántida, hundido bajo las aguas en remotas fechas.".
A situaçäo isolada das ilhas, as suas manifestaçöes vulcanistas, os ambientes quase irreais e únicos, o clima especial, mas sobretudo o escasso conhecimento exacto que delas se tinha, desde cedo levou à construçäo de histórias, explicaçöes, lendas - que se prolongaram desde a Antiguidade à época das Descobertas e à Idade Moderna, alimentadas pelas dificuldades do seu lento desbravar, ou pela patente continuidade dos fenómenos sísmico-vulcânicos: "A lenda das Ilhas Afortunadas criou-se na Antiguidade, quando a imaginaçäo dos homens procurava, num lugar perdido e distante, um mundo melhor que este onde viviam. As Colunas de Hércules, hoje estreito de Gibraltar, sem serem nunca um limite do mundo conhecido, formaram, desde a conquista cartaginesa, uma barreira da navegaçäo. Parecia assim natural que essa ‘terra dos bem-aventurados’ ficasse para além do estreito, nas ‘ilhas do oceano ocidental’. As Canárias, que os Gregos conheceram e visitaram, correspondiam em grande parte a este mundo ideal, pela amenidade do clima e pela fertilidade do solo, que tudo produzia, recompensando, quase sem esforço, sob o influxo de um céu luminoso e tépido, como numa eterna Primavera, os felizes habitantes dessas ilhas. Com elementos desta lenda e recordaçöes da cidade de Tartessos, na foz do Guadalquivir, aniquilada pela expansäo cartaginesa na Península Ibérica, compôs Platäo a descriçäo mítica da Atlântida, onde os homens viviam numa felicidade perpétua, na paz, na prosperidade e na justiça. de repente, ‘por tremores de terra medonhos e cataclismos’, a Atlântida desapareceu no seio das ondas e com ela a esperança de um mundo melhor, que o Cristianismo havia de renover, mas ‘depois deste desterro’, no plano da vida futura.
Durante mais de dois milénios, as Ilhas Afortunadas foram esquecidas."..."

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